sábado, 25 de agosto de 2012

A arte da conquista



Gente, essa semana fui ver A arte da conquista. O filme, que foi lançado no ano passado, é uma mistura de drama e romance como só os norte-americanos sabem fazer. O diretor e roteirista é Gavin Wiesen e os heróis são o Freddie Highmore (George) e Emma Roberts no papel da Sally.
A trama é muito interessante a absorve os espectadores em boa parte do filme. George é um adolescente solitário que cursa a faculdade em busca do tão sonhado diploma e quando está prestes a se formar percebe que tudo aquilo é uma ilusão.
                          George e Sally?               

O garoto, então, torna-se desatento, rebelde, passa a ler autores contestadores e perde o interesse por coisas menores como trabalhos escolares e o próprio canudo. Mas é “salvo” pelo gongo. Até então nunca havia se apaixonado, mas aí surge Sally pra mudar a sua vida.
A garota, apesar de ter uma beleza exótica e umas tiradas diferentes, ainda tem os pés no chão do mundo normal e George desenvolve por ela uma paixão platônica. Os dois passam boa parte do filme tentando se afastar um do outro mas a mão divina vai ao final aproximá-los.
                Pô, essa é de antigamente!

O filme então perde o encanto. Atraiu a minha atenção por aparentar ser contestatório da sociedade conservadora e consumista norte-americana, no entanto termina mostrando que “depois da tempestade vem a bonança”, ou seja, depois da rebeldia contra o sistema vem o enquadramento dos rebeldes.  Fica tudo como dantes no Quartel de Abrantes como dizia o general português.
Saí do Cine Glauber Rocha pensando em minha própria vida, pra verificar se continuo rebelde e anti -convencional como era nos tempos da faculdade. Fui pegar o batente na UNIJORGE encucado. Tinha duas aulas pra dar, nas turmas de Gestão Hospitalar e Negócios Imobiliários.
               Sociedade de consumo é f...!

Confesso que passei bastante ao largo dos professores que tratam de planejamento estratégico ligado à Administração. Acabei dando uma aula bem diferente, discutindo a improvisação reinante na trajetória do nosso país e deixando a pergunta para os alunos se as leis ações verificadas após os anos trinta não se tratariam de um planejamento restrito ao Estado brasileiro.
Mais tarde foi a vez de discutir com outra turma a origem dos conflitos sociais. Tinha que tratar das diversas versões, mas nesse dia, se falei das ideias de Santo Agostinho, Thomas Hobbes e JJ Rousseau, confesso que dei mais tempo pro velho Marx.

Saí da faculdade direto pra pegar no Sport TV o jogão do meu Vitória contra o Ceará. Mas mesmo autorizando o motorista do taxi a correr cheguei a casa quase no meio do primeiro tempo.
E o pior é que já tínhamos tomado um gol, num pênalti desesperado cometido por Victor Ramos para evitar a entrada de cara de um atacante do vovô. Soube que o George não tava nem aí, pois achava que essas coisas não tinham a menor importância. Eu não, torci desesperadamente pro Mota perder, mas ele nem caçou conversa, foi goleiro prum lado e bola pro outro.
                   Assim também é demais!

O Vitória parecia meio desarvorado, ainda estava se recuperando do gol. Agora era a hora de mostrar rebeldia com a situação, pois, ao contrário do George, o leão anseia por um título nacional. Ainda levou certo tempo mas o rubro negro acertou as três linhas, começou a acertar os passes e trocar melhor a bola no meio do campo.
Conseguiu chegar á frente uma, duas vezes, sendo barrado no último passe pelo sistema de marcação do futebol que é pior do que o educacional. Mas na terceira vez, Pedro Ken passou pra Gilson que enfiou pra Elton na grande área e este correu na linha de fundo e passou pra William, que estava na cara do goleiro, e este botou no fundo das redes de Fernando Henrique.
             Na base da língua também vai!

Pronto, podíamos continuar protestando mas pro primeiro tempo já basta. O Ceará, entretanto, não se acomodou. É tanto que foi pra cima e quase quase conseguiu desempatar quando Mota fez de novo das suas ao cabecear em um cruzamento pra área que Deola teve que pegar em cima da linha.
O empate não interessava a nenhum dos dois clubes nem ao jovem George. Os cearenses queriam se aproximar do G-4, e o leão seria ultrapassado pelo Criciúma no terceiro critério de desempate, o número de gols feitos. Se o rapaz do filme não queria cursar a faculdade pra nós era importante dobrar o primeiro turno na frente.
                      
Acho que coincidiu o belo segundo tempo de meu time com a chegada de Sally. Ela iluminou a vida do George assim como o time deu uma nova luz ao Castelão. Começamos melhores e com iniciativa do ataque, até que a bola chegou a William que enfiou para o menino Willie, e este matou no peito e cruzou pra Elton, que havia se deslocado pra pequena área, tocar pra botar o time na frente do marcador.
Enquanto George estava todo enrolado pelo menos o Vitória conseguia passar á frente do sistema. Mas...será que íamos garantir o escore até o fim? Afinal, nem o menino conseguiu manter sua rebeldia! As minhas dúvidas se reforçaram na saída da bola quando Robert mandou um foguete pro gol mas Deola fez uma defesa sensacional. Era o tal milagre divino!
                       Leva ele Almodóvar!

O Ceará atacava mas a bola morria nos zagueiros do leão, enquanto isso nossos contra ataques eram mortais. Teve um do Gilson pela esquerda, em outro a bola ficou pererecando entre a dupla sertaneja Willie e William, até que fizemos um gol antológico. Se fosse com o Bahia a imprensa tricolor colocaria o time no céu.
A bola veio de pé pra pé, desde o goleiro Deola, até que foi passada pra Pedro Ken na área que deu de bico entre o goleiro e um zagueiro pra fazer o terceiro gol. Não havia mais pessimismo de George que aguentasse afinal a vitória estava desenhada embora faltassem ainda 24 minutos pra acabar o jogo.

O Ceará enlouqueceu, passou a adiantar os meias e enfiou três atacantes, mas nesse dia Deola era a inspiração em pessoa. O vovô fez de tudo pra vencê-lo mas não adiantou. O goleiro fez uns três a quatro milagres.
Houve um que o cara veio entrando sozinho e ele tirou com o pé, em outro se espichou todo e colocou a bola acrobaticamente pela linha de fundo. A situação era muito perigosa pois se o Ceará fizesse mais um iria incendiar o jogo, e ninguém se esquece da virada do Goiás.
                        Se lembram deles?

Mas George já estava reconciliado com Sally e o final do jogo parecia tão evidente como o do filme. Assim o Carpé colocou mais um zagueiro (Rodrigo) tirando Willie e fizemos uma barreira na entrada da área pra bola morrer por ali.
O The End chegou em seguida. George recebeu seu diploma mas o Vitória ainda não. Mas esse ano, quem entende de conquista mesmo é o leão. Chegamos ontem á 
metade do sonho de se tornar campeão nacional e eu poderia curtir o meu fim de semana. Por alguns dias o chato do Cri Cri não nos incomodaria. Pegamos o bastão mais uma vez, e que venha o Barueri na terça feira!

domingo, 19 de agosto de 2012

O dia em que fui dormir na liderança do Brasileirão

                   
Gente, até que enfim o Vitória chegou no primeiro lugar da Segundona. Desde anteontem estou gozando das delícias de ser líder de um campeonato nacional. Mas vocês estão pensando que foi fácil? Necas de pitibiribas! Primeiro demorou cinco rodadas pro leão entrar no G-4. Depois foi subindo devagarzinho. Esperamos mais algumas rodadas pra chegar ao terceiro, e ficamos dez rodadas no segundo lugar. Os adversários aproveitaram pra nos encher o saco com o “complexo de vice”, isso só porque perdemos as duas finais nacionais que disputamos.
E o pior é que, logo quando agente montou um time e um técnico decentes, me apareceu o diabo do Criciúma pra atrapalhar. Será que é uma sina do Vitória? Em 1993, agente se deparou com o timaço do Palmeiras, que tinha um ataque formado por Edmundo, Evair e Edilson. Perdemos aqui por um a zero (graças ao juiz, que não marcou um pênalti escandaloso em Pichetti) e de novo no Morumbi (0 X 2).
Em 2010, depois de passar por tudo e por todos, demos o azar de pegar o maior time que o Santos montou nos últimos vinte anos, com Neymar e Ganso, e que venceria a Taça Libertadores da América. Perdemos lá por dois a zero (quando de novo fomos prejudicados por um injusto cartão amarelo que afastou o Viáfara, nosso goleiro titular) e aqui vencemos de dois a um, quando um novo pênalti deixou de ser marcado pro leão. Mas dessa vez ou vai ou racha. Já estou cansado de esperar na fila, esse título nacional tem que ser do leão!
                                               Ah velho voce devia estar aqui pra ver essa!

Toda a torcida estava esperando que isso acontecesse esta semana. Afinal íamos fazer duas partidas dentro de casa e estávamos a apenas um ponto de diferença do chato do Criciúma. Aí inventaram o horário de 19h30min pros jogos de futebol. Isso é um conluio desgraçado entre a Globo e a CBF contra nós.
Na terça feira, quando enfrentamos o Guaratinguetá, pelo menos tivemos o meu sobrinho Diogo que apareceu de última hora e nos ensinou o caminho. Ele telefonou e acertamos o horário pra passar na loja do meu amigo e vizinho Carlos Bride. É coisa de louco, pois tivemos que chegar cinco horas lá na Baixa de Quintas pra dali sair pro Barradão. Mas Diogo sabe onde dormem as cobras e arranjou um caminho legal pra agente ir pela BR em pouco mais de uma hora. Passamos por Pirajá, São Marcos, e chegamos a Canabrava bem antes da partida. Deu até pra fazer um lanche. Mas muita gente chegou com o jogo iniciado, e isso até o fim do primeiro tempo!
Mas a noite parecia sorrir pro Vitória. Enfiamos dois com o estreante William ainda no primeiro tempo e no segundo foi só administrar o resultado. A defesa dos caras não era grande coisa, diferentemente dos Cêerrebês e Bragantinos da vida que passaram por aqui e botavam onze jogadores na grande área pra se defender. Â maior alegria mesmo foi quando saiu o empate do América de Natal lá em Santa Catarina. E virou festa quando os potiguares fizeram três a um.
                                               Dessa vez não tem mala que nos derrote!

Ah, até que enfim tinha acabado esse negócio do Criciúma ganhar todas dentro de casa. Mas qual nada, daqui a pouco eles diminuíram. Perguntei quanto faltava e o sofredor ao lado me informou laconicamente:
-Nove. 
Droga pensei com meus botões, ainda dá tempo de empatarem. Foi dito e feito, não se passou dois minutos pra anunciarem no radinho um gol na Segundona. Logo depois, vinha a voz sem graça do plantonista:
-O Criciúma empata em Santa Catarina, dois a dois.
Uma desgraça! E o pior é que ainda faltavam sete minutos. O jogo se arrastava no estádio e o Guará não pressionava, de maneira que eu, o colega de torcida, e “Seu” Carlos ficamos com o ouvido colado no radinho. Aliás, isso é o que estava acontecendo com todo mundo que estava nas cadeiras do Eu sou mais Vitória. Nunca um jogo demorou tanto a passar. E a banana da rádio, ao invés de transmitir direto, ficava falando do jogo daqui.
                                                  Te esconjuro, vai azucrinar o Bahia!

Mas esse estávamos assistindo, o que queríamos saber era do outro! O jeito foi ficar contando o tempo no relógio. E, quando, já estava nos descontos o Gilmar (lembram-se dele?) que jogou aqui no Vitória, entrou pela direita e chutou sem ângulo e o goleiro tomou aquele “peru”. Pronto, quatro a três e o Criciúma continuou na liderança.
Mas nesse fim de semana foi diferente. Primeiro foi a tortura de outro jogo sete e meia na sexta feira, desta vez contra o Joinville que estava em terceiro lugar. Meu dia estava atarefado mas deixei até de ir pra academia pra ver o leão jogar. Fui à casa do professor Cesar em Brotas, uma liderança da greve que está saindo candidato a vereador pelo PSOL, e de lá mesmo fui direto pra Baixa de Quintas.
Pouco antes de chegar, no entanto, meu sobrinho me ligou pra dizer que não poderia ir em função de ter que pegar o filho no colégio. Senti um frio na espinha, só amenizado com a afirmação peremptória de “Seu” Carlos:
-Eu sei o caminho!
                        Ah Will voce ainda está procurando, e nós já encontramos a felicidade!

AÍ fiquei despreocupado. Saímos da Baixa pouco depois das cinco e subimos a Cidade Nova em direção à BR. Não demorou muito pra estarmos em meio ao mar de carros que frequenta aquela artéria. Mas só me preocupei quando surgiu uma entrada á direita e meu vizinho disse:
-É essa aí?
Pô, mas ele não disse que sabia? Essa até eu saia que não era pois ali se ia pra BRASILGAS. Aí esperamos até a próxima, onde se subir pra Estação de Pirajá. E olhem que quando entramos no caminho faltou pouco pra gente não ser apanhado por uma caminhonete que vinha no mesmo sentido.
Após um engarrafamento na estação novo motivo de preocupação:
- Viro á direita ou á esquerda?
Aí meus amigos, foi tal de perguntar que nem lhes conto. Os primeiros que nós falamos disseram que era pelo outro lado que se chegava na Avenida Gal Costa. Já o próximo afirmava exatamente ao contrário. Durma-se com um barulho destes. Optamos por prosseguir e ir perguntando. Foi só quando entramos numa rua completamente esburacada (aliás do jeito que Salvador está) é que vimos que tínhamos cortado o baralho errado. Pra encurtar a conversa e não encher o saco de vocês acabamos voltando para a BR.
                                               Almodovar, isso não merece um filme?

“Seu” Carlos me disse que ia pegar a entrada de Aguas Claras e indo por lá ele conhecia o caminho pro Barradão. Eu tinha que acreditar pra não me desesperar ficando sem ver o leão. Mas pegamos um engarrafamento monstro e foi um Deus nos acuda. Todos os meus tiques nervosos voltaram. O relógio era cruel mostrando que faltava apenas uma hora pro jogo começar.
O pior aconteceu de novo, “Seu” Carlos perdeu a entrada pra Aguas Claras! Mas não ia adiantar mesmo pois a entrada estava ainda mais engarrafada. Se fossemos por ali ficaríamos até o outro dia e não sairíamos no estádio. Agora eu não sabia mais onde estávamos, se estávamos indo pra Salvador ou pra feira de Santana. Tinha medo de perguntar, mas acabei por ouvir a terrível resposta do meu vizinho:
-A segunda.
A essa altura já apelava para todos os santos, mesmo sem ser religioso. Mas “Seu” Carlos apareceu com outra saída:
- O jeito é ir até a estrada do CIA e voltar pelo aeroporto.
Foi com esse objetivo que continuamos dirigindo até mais não poder quando vi a placa:
- Estrada CIA-Aeroporto. Entrar a direita.
                                                       Que venha o segundo turno!

Aí fomos coladinho na margem da rodovia até entrar na vereda da salvação e se livrar de ir pra Feira de Santana. Agora era só achar a Estrava Velha do Aeroporto pra pegar o caminho do Barradão. Olhei o relógio e ainda faltavam 45 minutos. E não é que depois de mil engarrafamentos, obras na estrada e um pedágio chegamos até o posto de gasolina da entrada da Estrada Velha?
“Seu” Carlos porém, não sabia transitar nela. Tivemos, portanto, de perguntar seiscentas vezes aonde era o Barradão. Vocês já passaram por lá? Não desejo ao meu pior inimigo frequentar aquelas curvas que mais parecem as da estrada de Santos de tão perigosas. Imaginem a cara das pessoas que num escuro desgraçado (pois lá não tem luz) são abordadas por uns homens mal encarados perguntando onde é o Barradão.
Que merda, nunca vi uma estrada tão cumprida! E ainda começou a chover, de sorte que não enxergávamos mais nada. Eu pensei que tinha chegado a minha hora e estávamos indo pro inferno mas pelo menos não havia engarrafamento. Quando vi um carro á frente com a bandeira do Vitória é que percebi que tínhamos pegado o caminho certo. Foi só seguir o desgraçado pra chegarmos ao estádio, isso umas quatrocentas curvas depois.

“Seu” Carlos só encontrou vaga pra estacionar longe do estádio e assim tivemos que pegar uma boa corrida debaixo de chuva até o Barradão. O jogo tinha começado e já podíamos ouvir os gritos da torcida. Não tínhamos nem um radinho pra saber do andamento da partida. Perdi-me de meu vizinho e subi correndo a ladeira pra entrar esbaforido no templo do leão. Fui um felizardo pois ainda consegui chegar com sete minutos do jogo começado mas “Seu” Carlos só chegou aos quinze.
Consegui um lugar apertado nas cadeiras e vi o time apertar o Joinville. Dei sorte pois logo depois Pedro Ken entrou pela direita e serviu Uéliton que chutou forte e o goleiro largou a bola molhada a tempo de William enfiar pro fundo das redes. O Vitória ainda apertou outras vezes mas o goleiro catarinense salvou. Numa dessas Elton deu de calcanho pra Uéliton que bateu de novo pro goleiro fazer uma defesa sensacional.
Mas quando Nino chegou á linha de fundo e cruzou nem mesmo ele pode evitar a batida de primeira de Elton pro fundão do gol. E o que já está bom pode ainda melhorar graças a catimba de William que acabou agredido por um zagueiro do Joinville que foi tomar banho mais cedo. Juro que pensei até em goleada, mas no finzinho do primeiro tempo Willie foi cortar uma boa e acabou dando um pênalti bobo que Ricardinho converteu. 
                                          Não adianta chorar gente, é baianada mesmo!

No segundo tempo não foi fácil assistir o jogo em meio a um mar de guardas chuvas. Eu e “Seu” Carlos tomamos chuva de dar dó, mas não foi isso o que mais nos incomodou. È que o leão mais uma vez esqueceu o futebol no vestiário e de novo só fez administrar. Passamos por um verdadeiro sufoco pois o Joinville foi pra frente, pressionou, e tudo isso com dez homens. Imaginem se tivesse com o time completo!
Carpé até que fez alguma coisa, colocando Marco Aurélio pela ponta esquerda e Artur Maia e Tartá pra prender a bola, mas nada deu certo pois os jogadores só queriam garantir o resultado. Mas o que é que houve com o Marco Aurélio hein? Não acertou um passe! O jeito foi ficar contando o tempo pra que ele passasse mais depressa. O Vitória ainda deu uma estocada ou outra com Pedro Ken, Willie e Arthur Maia mas os caras apertaram até o fim. Aos 26 minutos ficaram de cara e perderam. Foi com alegria que a vi o juiz apitar o fim do jogo.
Chegamos a casa mais de onze da noite, molhados mais felizes. Foi uma das noites mais bacanas da minha vida a que dormi em primeiro lugar. Havíamos garantido pelo menos 18 horas na liderança. Mais ainda tinha mais no sábado. É que o Cri cri amargou desde o início com o Atlético Paranaense. Tomou um gol logo no primeiro tempo e quase sem querer. Felipe chutou e a bola bateu em Marcão e entrou devagarzinho com eu soprando até que passou a linha.  Depois foi só segurar pra ajudar a campanha: coloque um leão em primeiro.
                                                      E foi depois que doamos sangue!

A coisa melhorou ainda mais com a expulsão de um jogador catarinense que fez falta desclassificante quando já tinha cartão amarelo. No segundo tempo os catarinense ameaçaram dar testa. Chegou até a perder um gol de cara da pequena área no início. O Atlético, porém, retomou o controle da partida e deixou para o ex-líder só a opção dos contra ataques. Num desses, aos doze minutos, se não fosse Manoel a vaca ia pro brejo.
Mas com a entrada de Paulo Bayer, e a fixação de dois atacantes pra jogar pelas pontas, o Atlético passou a dominar a partida e teve algumas chances preciosas de marcar. Aos 40 e 46 minutos Paulo Bayer e Maranhão quase ampliam a vantagem. O jogo estava definido e só faltava o apito do juiz pra consagrar a liderança do leão, o que aconteceu pouco depois.
Agora não dependíamos de mais nada. O Vitória era o líder do Brasileirão e estava a oito pontos do quinto lugar. É só nos mantermos na frente pra faturarmos o primeiro título nacional de nossa história. Podem falar o que quiserem mas durante uma semana ostentamos esse “título”. Pelo menos até a próxima sexta feira quando pegaremos o Ceará no Castelão!

domingo, 12 de agosto de 2012

A Olimpíada

      
Todo mundo me diz que eu deveria escrever sobre a Olimpíada. Mas confesso que esse ano brochei pros outros esportes. Será que foi por causa da Globo que não transmitiu as competições e a Record pegar mal lá em casa? Ou será que foi decepção com tanta porrada que o Brasil tomou na Olimpíada passada? O que eu sei é que quando vi o nosso país cair pelas tabelas passei a só acompanhar quando ligava a TV.
Eu sei que tem gente que não largou da telinha, deixando até de se concentrar no trabalho. E de outros que adiaram viagens e planos pra ver se o Brasil desancava pelo menos nos tais esportes coletivos. Meu pai mesmo é um deles. Aliás a vida dele é quase uma olimpíada. Quando chegou a Salvador nos anos quarenta vindo de Ilhéus para estudar, competiu pelo atletismo, disputou no vôlei, remou, jogou basquete e futebol.
                       Epa, arremesso de peso?

Hoje é que a maioria dos esportes deixaram de ser amadores e o pessoal vive do bom e do melhor. Hospeda-se em hotéis de quatro estrelas, viaja pras Orópas, o escambáu. Pode se dedicar a apenas um esporte e ainda ganha uma bela grana por fora. Pois é, mas no tempo de meu pai não tinha nada disso.
Imaginem que o papi acordava as quatro da matina e ia logo pras raias da Enseada dos Tainheiros em Itapagipe remar! Começou pelo clube São Salvador mas quando viu as cores rubro negras a paixão foi imediata e nunca mais deixou de acompanhar o clube. Voltava pra casa correndo pra fazer uma rápida refeição e se jogar pro estádio da Graça a tempo de pegar a preliminar.
Naquele tempo o transporte de Salvador já era o fim da picada. Meu pai pegava o bonde de Itapagipe equilibrando-se no estribo (pois sempre vinha lotado) até o Comércio, depois subia pra Cidade Alta com o Elevador Lacerda, descia a Ladeira da Praça, pegava o Gravatá e pronto...já estava em casa.
       Ficar mais tempo sem respirar é com o Brasil mesmo! 

Morava num hotelzinho simpático que existia ali no entroncamento da Rua do Gravatá com a Ladeira da Independência, onde morava a minha mãe, que ele conheceu algum tempo depois. Como não tinha muita grana o almoço era frugal mesmo, não dando nem pra repor as energias do esportista!
Ai tinha que subir a ladeira correndo pra pegar o bonde pro bairro da Graça. Naquele tempo as preliminares com os Segundos Times começavam cedo, as treze horas, e com o sol a pino. Mas meu pai e meu tio não perdiam uma. Digo não perdiam mais para falar de comparecimento do que de resultado dos jogos, que na verdade não eram nada bons. É que meu pai experimentou essa vida nos anos de 1939 e 1940, antes de namorar com a mami, anos que o Vitória ainda era amador e seu desempenho no campeonato fazia dó.
Tudo bem com meu tio Zeca que, cansado de apanhar pelo São Cristóvão e Vitória, também passou pelo Ipiranga e até (cruz credo!) pelo rival Bahia. Aí ganhou muito mais do que perdeu. Mas meu pai não, foi fiel ao leão até o fim, sempre jogando com as cores rubro negras. Outro dia fui na casa de um pesquisador do Vitória e quis ver se ele era bom mesmo pedindo pra ver aqueles anos. E não é que estava lá o papi? Puxa, bacana! Contei a ele mas acho que ele não entendeu bem pois está cada vez mais surdo.
             Tudo isso aconteceu em Londres!

Mas, voltemos pro duro que meu pai e meu tio davam pra praticar esportes. Naquele tempo não tinha esse negócio de só jogar uma partida no dia não! O papi jogava a preliminar pelo Segundo Time e ainda ficava por ali, caso o técnico precisasse dele no jogo principal. Se bem que isso acontecia mais com meu Tio Zeca que com o papi. Mas, o certo é que passavam a tarde inteira neste lufa-lufa!
Mas está pensando que acabou? Que nada. No fim da tarde, quando terminavam os jogos (pois nem falar de iluminação noturna!) eles ainda iam jogar basquete no Clube Olímpico e na seleção universitária, pelo time da FUBE. Só chegavam no Gravatá pra mais de dez da noite. Mas não havia problemas pois a Independência era lugar onde morava gente “de bem” e o Gravatá nem se parecia com a cracolândia de hoje.
Pois é, era assim que se praticava esportes. Talvez tenha sido por isso que o Brasil nunca arranjou nada em Olimpíada! Meu pai casou com a mami em 1946 e virou um homem sério, abandonando esse negócio de praticar esportes. Só sobrou o basquete, o qual sempre que podia apitava partidas e chegou a ser um dos melhores juízes do país, apitando jogos importantes como a vinda dos Globe-trotters à Bahia e decisões do campeonato carioca de basquete!
                        Esse não ganhou nada!

Como disse, nunca deixou de acompanhar a Olimpíada, primeiro pelo rádio e depois na era da TV. Assisti com ele as competições alguns anos, mas depois foi rareando a minha presença. Como meus irmãos moram em outras cidades e a mami não está mais entre nós, agora ele assiste mesmo é sozinho.
Esse ano, talvez pelo fato da próxima Olimpíada ser no Brasil, acompanhei alguns esportes. Mas foi até o Brasil passar do décimo lugar. Poxa, tá bem a China, a Rússia, os EUA, ou mesmo Cuba ficar em nossa frente. Afinal, nesses países a prática de esportes acontece desde pequenininho. Vá lá que a Inglaterra, a França, a Itália e a Alemanha, fiquem na frente do pavilhão nacional, mas o Cazaquistão? A Jamaica? O Irã? A Ucrânia? Assim também é demais também!
                              Aí é covardia!

E como choram os jornalistas! Também, a elite brasileira é fissurada nessas medalhas e fica atazanando todo esportista que se destaca. Na seleção de futebol ganhar a medalha virou complexo. Passaram a semana toda dando a medalha de ouro como favas contadas, sem nem olhar pro México. O resultado foi o que se viu, e exatamente no dia em que eu me animei a ficar na frente da telinha!
É que ontem fui um dia muito esportivo. As onze da manhã o Brasil jogava com o México. As duas a seleção de vôlei feminina jogava com os EUA. As 16h20min o Vitória entrava em campo. As 17 o boxeador brasileiro iria disputar o ouro. E ainda tinha de quebra o Bahia contra o cruzeiro as seis e meia. Ufa, era muito esporte num só dia. Me lembrei do papi.
Quase me passo pro jogo da manhã. Quando liguei o México já tinha feito o primeiro gol. O Brasil não conseguia nem entrar na área. Cadê Neymar, Leandro Damião, Oscar e Cia? O goleiro Corona só foi fazer algum esforço quando Mano Menezes (que técnico chinfrim, hein!) botou Hulk. É que ele tinha entrado com tal de Alex Sandro que ninguém entendeu.
                          Que esporte é esse?

O time até que foi pra cima no segundo tempo, e aí Neymar resolveu jogar...sozinho. Mas quando os mexicanos iam ao ataque era uma verdadeira polvorosa. Botaram uma bola na trave, perderam um gol de cara, e acabou o tal Peralta fazendo mais um. Só Hulk fez a honra da firma fazendo um gol no finzinho, e foi só! Mais um sonho de medalha de ouro furado.
As duas da tarde até que as brasileiras se deram bem. Também, já eram campeãs olímpicas, numa das poucas medalhas que o Brasil ganhou em 2008. Depois de um início claudicante, as norte-americanas baixaram a guarda e entraram pelo cano. Acabou sendo mais fácil do que pensávamos.
Agora eu estava pronto pra ver a verdadeira olimpíada, a do Vitória pra subir pra Primeira Divisão. E olhem que o jogo era num estádio que suscitava lembranças da Copa do Mundo de 1950. É que ali foi realizado o jogo que passou para a história como a maior zebra das copas, quando a fraquíssima seleção dos EUA venceu o poderoso English Team por um a zero. A partida virou até filme de Hollywood. Mas a do Vitória contra o América Mineiro não merecia tanto.
 Só agente se enforcando, afinal o Brasil não ganha nada!

Os Américas até que começaram bem a Segundona.  O mineiro estava em primeiro lugar até a 13ª rodada, mas depois caiu pelas tabelas perdendo três partidas seguidas e dispensando o técnico Givanildo. É que, graças a Deus, perdeu três de seus melhores jogadores para o futebol europeu!
Foi mais um jogo que me preocupou. Afinal de contas o leão estava sem Uéliton, os dois laterais que estavam jogando, e, de quebra, com um ataque novo. Esse Carpegiani não é brincadeira, quando tem de mudar muda mesmo. Mesmo que tenha que fazer isso com metade do time que há duas partidas não fazia gols!
O jogo em Belo Horizonte começou pegado e com o leão com mais iniciativa. Aos cinco minutos Carlinhos subiu pela direita e passou pra Willie, mas este foi flagrado no impedimento. Cinco minutos depois o bandeirinha marcou novo impedimento quando o mesmo Willie entrou de cara com o gol. Oito minutos depois foi a vez de uma bola ser cruzada perigosamente para a área mas o goleiro Neneca saiu bem e segurou.
                   Olha quem foi visto na natação!

Aí o América melhorou e começou a gostar do jogo. A defesa rubro negra, porém, reagia bem, até o momento em que uma bola foi cruzada da esquerda pro centro avante que ajeitou com o braço e colocou no fundo das redes. Eu e meu vizinho ficamos revoltados. E o pior mesmo foi quando o marreteiro do juiz ainda expulsou o goleiro Deola por reclamação, tendo que tirar Willie pra poder botar o goleiro Douglas.
O time perdeu totalmente o controle, durante cinco minutos só deu América, ao ponto de um atacante perder um gol incrível da pequena área em novo cruzamento. Mas o que há de ser nosso ninguém tira, e aos 30 o lateral esquerdo Gilson que estreava faz um cruzamento e Pedro Ken domina, corta o beque e chuta pro fundo das redes mineiras. Ufa, nunca vi um gol tão oportuno!
            Socorro, manda mais gente pra Londres!

Foi a vez então do América perder o estilo e só não tomou o segundo gol, numa linda jogada do estreante William, graças a uma defesa milagrosa de Neneca. Aí o jogo equilibrou e nem parecia que o Vitória tinha menos um jogador. Mesmo que o América tivesse maior volume de jogo o leão passou a fazer contra ataques rápidos que obrigavam os mineiros a não deixar subir os zagueiros.
As reclamações do banco rubro negro continuaram a um ponto que o péssimo juiz ainda interrompeu a partida pra expulsar o médico do Vitória. Veio polícia, o diabo! Agora, eu só imagino se alguém do time se contundisse. Como fariam? Deixava de prestar atendimento ou dariam um jeitinho como tudo no Brasil?
A essa altura eu já estava feliz com o resultado e não tinha nenhuma mudança pra fazer pro segundo tempo, a não ser a de imaginar que William ia cansar. Bastaria só orientar o posicionamento da rapaziada, manter a mesma pegada e se poupar em algumas jogadas para o preparo físico durar até o fim. Até que Carpé me atendeu não fazendo alterações.
                  Só arranjando um pistolão!

Não deu outra coisa. O mecão veio pra cima. Desde o primeiro minuto a bola já era cruzada perigosamente para a área. O Vitória só descia, corretamente, na certa. Aos quinze, novo cruzamento para a área pra zaga tirar. Um minuto depois Carpé botou Marcelo Nicácio no lugar de William.
Os próximos minutos foram dos mineiros atacando, mas não conseguindo acertar o último passe, e do leão sem prender a bola no ataque. Aos vinte lá vem cruzamento pra defesa rubro negra tirar. Quatro minutos depois, graças a Deus saiu Carlinhos entrando Rodrigo em seu lugar.
O time ganhou três vezes com essa substituição, colocou alguém experiente na direita pra barrar as entradas do mecão (Gabriel) e passou a jogar com três zagueiros acertando mais a zaga. Os contra ataques se tornaram, assim, ainda mais rápidos, com o Vitória ganhando em ousadia. Mas o América botou mais um atacante, o perigoso Fábio Jr.(não é o cantor) no lugar do ex - leão Tiago Humberto que já ia tarde.

                 
Mas não há quem aguente com as saídas malucas de Douglas, como a que ocorreu aos 25, mas ainda bem que o juiz deu falta no goleiro. Nos próximos seis minutos o leão encaixaria dois bons ataques. No primeiro o ataque desceu bem e chutou de fora da área por cima do travessão. E, no segundo, Rodrigo Mancha perdeu boa oportunidade ao bater pra fora. O mecão atacava mas a zaga tirava a bola. E aí o menino Leilson quase faz um gol sensacional chutando da esquina da área pro goleiro Neneca fazer a defesa do jogo.
Faltavam dez minutos pro fim do jogo, fora os descontos do juiz marreteiro. Comecei a contar os segundo nesta hora. Bola pro ataque do mecão e é falta perigosa mas o juiz não deu, também estava a fim de compensar o erro clamoroso que deixara o Vitória nesta situação. O time estava quase funcionando na base da ligação direta á exceção do desempenho de Pedro Ken.
Mas foi do pé do experiente volante Michel que veio o cruzamento salvador para a pequena área onde estavam Leílson e Marcelo Nicácio. Ai o goleiro Neneca dormiu e marcelão deu de cabeça pro fundo das redes. Era a alegria geral aos 40 do segundo tempo. Abri a janela do apartamento do vizinho pra gritar mas meu grito acabou se confundindo com os outros que vinham da rua. É saco, mais uma vez fora de casa.
                  É por isso que não sobra medalha!

Foi uma tortura os minutos finais mas o juiz acabou não dando muito desconto e o time fez passar o tempo e a zaga segurou o trinfo. Nem me preocupei com o gol do Criciúma empatando o jogo contra o São Caetano no finzinho e permanecendo na liderança da Segundona, mas agora só com um pontinho de diferença.
Bem, se ganhamos tão pouco na Olimpíada de Londres, pelos menos tem essas vitórias do leão fora de casa pra lavar a noissa alma por aqui no Brasil. Me aguarde Criciúma, seus dias tão contados. Agora é faturar o Guará e o Joinville nesta semana. Quero ver se o Carpé não vai botar dois centro avantes logo de saída pra que agente não sofra mais dentro de casa.

domingo, 5 de agosto de 2012

Na estrada


                            
          
            Nos anos 60 O mundo se dividia entre duas potências, os EUA e a URSS, que se enfrentavam numa aparentemente eterna “Guerra Fria”. O Brasil absorvia e adaptava a penetração tardia da Era de Ouro hollywoodiana e, porque não dizer, iniciava sua própria indústria cultural que contribuía pra despertar novas atitudes de um público jovem que crescia em poder de consumo.

De repente, não mais que de repente, vi adentrar, em meu horizonte, o jeans, um novo corte de cabelo, o cigarro, a bebida, o rock, e os filmes sobre direitos civis. Passei a curtir os Beatles e Elvis Presley quando as novas temáticas atingiam até Hollywood. Mostrar uma nova forma de poder voltada para a liberdade pessoal foi essencial para minha geração.

        Pô a mulher quer morder o pescoço como a de Crepúsculo?


Foi com essa expectativa que entrei na era da televisão e da construção de Brasil e de todo tipo de desenvolvimentismo. O projeto de transformação da sociedade brasileira apoiado no Estado teve vida breve e o país entraria, politicamente, numa pior. Mas eu continuaria sendo um garoto que amava os Beatles e (bem menos) os Rolling Stones. No fim da década, o homem pisava na Lua, morriam Che Guevara, Jimi Hendrix e Janis Joplin, e viria o AI-5. Mas isso já é outro assunto. O que importa é dizer que nessa época estávamos on the road (na estrada).

Sempre que eu penso nesta época me convenço que um dos motivos pra que agente se insubordinasse com a situação foi a educação desinteressante, onde se adotavam a repetição como método de ensino, de vigiar e punir. Lembro-me de, no curso primário, ter tido que sair de um colégio por ter reagido ao receber uma reguada da professora quebrando a régua. Pouco tempo depois frequentei outro estabelecimento que tinha o costume de colocar os alunos de costas para a parede e dar bolos em suas mãos, quando erravam durante a sabatina. Num sábado, quando voltei com as mãos inchadas para casa depois de sofrer quinze bolos, meu pai me retirou dele depois de “dar a louca” no colégio.

                            O cara é mesmo dono da bola!


Fiz a admissão e o primeiro ano do ginasial no colégio dos jesuítas, o São Bento. Mas não escapei do monopólio do saber dos professores. Ali fiquei conhecido como o aluno que “quis testar o professor” em função de ter feito uma pergunta sobre um assunto do qual conhecia a resposta. No tempo do saudoso Dom Norberto, minhas peraltices, além de levarem a não renovação da minha matrícula, fizeram com que meu primo Rafael Avena, anos depois, quase não fosse aceito no estabelecimento por confessar a relação familiar comigo. Mas aí eu já tinha conseguido chegar ao colegial numa década em que eu perambulei on the road por várias escolas como a de “Dona Vandete”, do Castanheda, o São Bento, o Ypiranga, Escola de Engenharia Eletromecânica, a Visconde de Cairu, o Instituto Valença e o Hugo Baltazar da Silveira.

Pouca coisa, também, ficou em minha memórias, do período do golpe. Da véspera só me lembro de ter acompanhado a excursão dos The Beatles aos Estados Unidos e do lançamento de I want to hold your hand, do futebol e do Carnaval. Nesse tempo, compareci à finalíssima do campeonato baiano quando vi, com satisfação, no Estádio da Fonte Nova, o EC Bahia perder o hexacampeonato para o Fluminense de Feira por dois a um, com dois gols de Renato.

        Alexi, deixa de conversa e traga um novo centroavante!


No dia 31 de março foi festa em minha casa! Teve bolo e tudo. Mas, para que não se tenha a impressão de que éramos um bando de reacionários, devo dizer que isso aconteceu em virtude de ser aniversário de minha irmã Lena, que, para o seu azar, completava 18 anos. Mas meu pai e minha mãe pareciam mais sérios que de costume. É que nesse dia o rádio ficou ligado para acompanhar o deslocamento de tropas do general Mourão Filho de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro.

Após o golpe, centenas de pessoas ficaram presas (pelo menos até junho) e alguns tentaram se reorganizar em meio a grandes dificuldades. Enquanto isto eu continuava a minha via crucis nos colégios, intensificando o comparecimento ao futebol, passando a frequentar ligas de botão e aumentando a minha admiração pelo rock, particularmente dos Beatles. Enquanto eu frequentava as turmas escolares as redondezas de Salvador se industrializavam e se tornava evidente o anacronismo dos estabelecimentos de educação.

                                  A estrada não era tão ruim!


A droga da minha turma era o lança-perfume, que cheirávamos no período carnavalesco. Mesmo assim, “pongando” no dos outros, pois não tinha dinheiro para comprar. O pessoal “Durango Kid”, que nem eu e meu irmão “Toinho”, levava pequenas garrafinhas de uísque na cintura, embora eu nem gostasse da bebida. O lança-perfume e as máscaras foram proibidos algum tempo depois. Quando comecei a tomar cerveja, achei horrível, só continuando para ser sociável.

Fugia dos deveres escolares para “vadiar” na porta da Fundação Politécnica, da Loja Sloper, no “Relógio” (Piedade), Rua Chile ou Carlos Gomes. Criei bigode e uma costeleta enorme. Ficávamos o dia todo na porta da escola. A diversão era “pegar um lance” das meninas que subiam nos ônibus, “jogar conversa fora” e fazer traquinagens. Só consegui o colegial em 1969 , aos vinte e um anos. O sentimento da família era de alívio. Ela e eu pensávamos que não voltaria mais a estudar.

            É por isso que filmes como Na estrada de Walter Salles me lembram desses tempos que não voltam mais. Naquela época assistia a todos os que retratassem a nossa geração, assim como Sem destino. O de Waltinho levou para as telas o romance de Jack Kerouac, e conta a história de um jovem escritor (Sam Riley) cuja vida é sacudida pela chegada de um jovem libertário (Garrett Redlund) com sua namorada de 16 anos (Kristen Stewart). Juntos cruzam os EUA em busca da última fronteira americana e ultrapassam limites.
                                Será que são eles correndo os EUA?
  
      Mas quem viveu os anos 60 acaba achando o filme um pouco chocho. Afinal, o que vivemos foi muito mais do que isso. E, aqui pra nós, hoje muitos jovens já não quer contestar coisa nenhuma e preferem votar em Dilma e ACM Neto. Mas se o filme não passou o clima do passado acabou se ajeitando, tal como uma luva de pelica, no jogo da Segundona entre Vitória e Bragantino na sexta feira á noite.
             A primeira coisa é que o leão é ainda jovem na Segunda Divisão, aonde chegou recentemente há apenas dois anos. Quanto ao tal do libertário que bagunçou a sua vida só pode ser mesmo o Criciúma que atrapalha o sonho do rubro negro ter um título nacional. Juntos, os dois estão cruzando não os EUA, mas o Brasil, de ponta a ponta, atrás do sonho de subir. E aí minha gente é tal de romper limites que nem te conto. Na sexta, todo mundo que eu vi falava que o jogo ia ser uma “barbada”. Eu ficava chateado em ouvir isso pois o Braga já foi vice-campeão paulista e, no ano passado, por pouco não sobe. Foi até a última rodada disputando. Se não fosse a “mala branca” não seria desclassificado pelo Paraná.
                             Até Munch sabia o que é perder pro Braga!

               O jogo seria o primeiro sem Neto Baiano, mas o que se há de fazer, quem não tem Neto caça com Nicácio. Pelo menos é o que eu pensava até começar a partida. Na defesa ainda faltava Victor Ramos e Mansur estava voltando após vários jogos, ainda fora de condições físicas ideais. Cheguei ao estádio ainda ouvindo o otimismo inveterado dos torcedores. Esse pessoal é taca. Primeiro não acreditava nem no time nem no técnico. Depois que ganhou seis seguidas fica pensando que o time vai ganhar de todo mundo.
               Fui com meu vizinho, o Carlos Bride. Imaginem que saímos de casa ás 18h30min e só fomos chegar ao estádio às vinte pras nove. Chegando às cadeiras do programa Eu sou mais Vitória tratei de convencer o pessoal que o jogo não ia ser fácil. Mas a turma queria porque queria ganhar de no mínimo três gols de diferença pra azarar o Criciúma e chegar à liderança.
               Confesso que até eu tinha dúvidas. Quem sabe não dava? Desta vez já haviam mais listas vermelhas na camisa mas nos primeiros minutos já tinha visto que o jogo não seria fácil. É que o Bragantino foi pra cima e necas de pitibiribas pro leão. Aos dez minutos já tinha chegado umas três vezes em erros dos zagueiros do rubro negro.
                    Olhe o torcedor do Vitória quando o time joga em casa! 

             Só nessa hora é que o Vitória chegou com Marquinhos mas este bateu mal e, teve sorte quando o zagueiro quase bota pra dentro. O Braga equilibrou a partida até pelo menos uns vinte minutos, e depois só deu Vitória em campo. Os paulistas se defendiam com dez e a coisa não era fácil. Mas pelo menos houveram ainda duas chances, uma cabeçada de Gabriel pra fora e uma bela jogada de Pedro Ken que o goleiro Rafael acabou defendendo. 
               Discutimos bastante no intervalo. Desta vez não havia mais outro centro avante pra botar. Então a solução seria colocar o atacante Marco Aurélio por ali retirando Michel. Aí pelo menos teríamos dois caras de linha de frente embora nenhum deles fosse centro avante de origem. A outra ideia que nos surgiu foi colocar Léo no lugar do lateral-esquerdo Mansur que subia pouco.
               Mas quando veio o time nada de substituição. Considero que Carpegiani perdeu tempo demais, pois só veio substituir quando faltava menos de meia hora. Tirou corretamente Michel pra colocar Marco Aurélio, mas sacou também Marquinhos por Tartá. As substituições não deram em nada pois o Braga veio ainda mais fechado. Mas pelo menos haviam três na área pra enfrentar os nove do Bragantino.
                                 Oh campeonato comprido desgraçado!
    
            Mas foi só quando Carpé botou Eduardo Ramos é que a coisa degringolou. Agora, sem o Nicácio, não haviam mais atacantes de área. No frigir dos ovos ele tirou a dupla de ataque que iniciou a partida e a substituiu por Tartá e Marco Aurélio. Só conseguiu melhorar o toque de bola colocando Eduardo Ramos.
                 A emenda saiu pior do que o soneto, pois, se o Vitória não tinha Neto o Braga tinha Lincoln. E logo no início do segundo tempo o cara bater Michel na corrida e mandou bala pra boa defesa de Deola. Pelo menos agora temos goleiro. Foi só isso por enquanto da turma de Bragança e levou meia hora em que só dava o leão, mas só tentando entrar pelo meio.
                 Nino meteu uma bomba de fora da área mas o tal do Rafael defendeu. Depois foi a vez de Uéliton cobrar uma falta, deu uma tamancada danada mas o goleiro espalmou. Eduardo Ramos cobrou uma falta quase da lateral e a bola só não entrou por muito capricho, bateu na trave e nas costas de um zagueiro e foi aliviada da área.
                               Fique descansando que o trem atropela!
       
          Nesse interim alguém levantou uma bola pra grande área e não é que Dankler pensou que estava jogando vôlei? Cortou com a mão, graças a Deus que o Heber Lopes não viu! A essa altura eu não estava mais achando tão ruim o empate, deixando pra passar o Criciúma em outra oportunidade.
                  Mas, qual, o juiz acabou compensando mais tarde. E aos 34 minutos Gabriel meteu o pé entre as pernas de Lincoln pra tirar uma bola e esse se jogou no chão num lance digno de canastrão de novela da Globo. E aí o Heber apitou incontinenti para a marca do cal. A torcida até que tentou azarar. Nunca vi tanta confiança num goleiro. Até que Deola pulou certo mas o diabo do pênalti foi muito bem cobrado.
                  Daí em diante foi um tal de olhar relógio que ninguém aguenta. Ainda teve uns dois lances perigosos, uma falta na entrada da área que o miserável do juiz não deu, e foi só. Depois do jogo foi aguentar subir a rampa, descer a ladeira e caminhar até o carro metendo o pau no time. Meu vizinho ligou logo o rádio pra ver como o técnico “explicava” o resultado. Não faltava radialista que, ao invés de analisar a partida, pra ser vivandeiro de crise. O time que havia ganhado seis jogos seguidos agora não servia pra nada!
                                              Abre o cofre leão!
              
     Levei algumas horas nesse dia me remexendo na cama pra entender o que se passou e, até domingo, pra conseguir escrever pra vocês. Dos males o menor, graças a Deus os Américas se deram mal, o Criciúma perdeu e continuamos com cinco pontos á frente do quinto lugar. Continuamos na estrada. Mas é preciso ajustes no time pra seguir adiante.
                  A Segundona entrou na sua terceira fase. Até a oitava rodada o G-4 parecia coisa de japonês, com uns oito times se revezando por lá. Depois o Criciúma e o Vitória dispararam na frente. Recentemente o negócio mudou. Todo mundo está se reforçando, até em Arapiraca estão desembarcando quatro jogadores esta semana. E os que estão em cima estão perdendo jogadores.
                   Não é à toa que o América Mineiro vem caindo, o atacante Bruno Meneghel foi pras Europa e acompanhado de mais dois titulares. O de Natal se ressente por não ter reservas á altura, e quanto ao Criciúma corre o risco de ficar sem seu artilheiro, o Zé Carlos, por quem Santos e Inter já fizeram propostas. O Vitória, além de perder o Neto pro futebol do Japão, ainda corre o risco de ficar sem outros jogadores.
                       Essa zaga sem Victor Ramos mais parece vampiro!

                   Estamos em apenas 40% do Brasileirão e a equação é dentro e fora do campo. Quem irá resistir ao assédio dos clubes da Primeira Divisão cuja maioria dos jogadores não podem mais trocar de clube? Ficou evidente no jogo de sexta feira que todos os clubes que jogarem aqui vão botar dez jogadores dentro da área pra se defender, e se não tiver centro avante e bons alas não vamos mais ganhar de ninguém.
                    O novo contratado William deu certo no Avaí, será que vai funcionar no Vitória? E esse lateral Gilson que não serviu pro Cruzeiro? Não temos mais tempo de errar pois o Goiás e o São Caetano estão mordendo os nossos calcanhares. Nesta semana já tem o América Mineiro fora, menos mal que é só jogar nos contra ataques. Mas depois jogamos duas vezes seguidas dentro de casa e o salve-se quem puder da falta de atacantes vai voltar de novo!