domingo, 31 de julho de 2011

Desgraça pouca é bobagem!


                     O ano em que detonaram o Vitória!

                            
O ano de 1938 não é muito popular nos almanaques. O pessoal prefere falar dos anos onde ocorreram muitas alterações significativas para a humanidade tipo “calça de veludo e bunda de fora”. E olha que neste ano começaram as expulsões de judeus na Alemanha e outros países e as tropas nazistas anexaram a Áustria ao tristemente famoso III Reich sob as barbas do Ocidente e da URSS que preferiram conciliar com os alemães.
Na ocasião a França e a Inglaterra até assinaram o “Acordo de Munich” com Hitler e Mussolini. O Brasil faria de conta que nada estava acontecendo, até porque firmou contrato neste ano com a alemã Indústrias Krupp para fornecimento de material bélico. Nesse ano, aliás, os integralistas “se acharam” e chegaram a atacar o Palácio da Guanabara, na ocasião residência presidencial.
                                             Os baianos pegaram uma onda desgraçada!

Aliás, foi o ano onde um produtor norte-americano inventou os programas de catástrofes ao realizar a transmissão radiofônica de A guerra dos mundos de Oscar Welles que causou um verdadeiro pandemônio entre os ouvintes que acreditaram que seres alienígenas haviam invadido o planeta. Entre mortos e feridos não se salvaram todos, perdendo-se, entre outros, os cangaceiros Lampião e Maria Bonita, o poeta Gabriele D Annunzio, o diretor teatral e ator Stanislavski e o filosofo Husserl.
Mas, 1938 não viveu apenas de imperialismos, covardias, traições e tristezas. Nele foi lançada a revista em quadrinhos do Superman e criada a Voz do Brasil, começou a ser fabricado o famoso fusca pela Volkswagen, realizou-se a III Copa do Mundo, ganha pela Itália, e foi fundado o pior time do mundo, o Íbis FC de Pernambuco.

Mas foi a Bahia que profetizou a chegada da II Grande Guerra. Bastava ver o que aconteceu no futebol baiano deste ano para ver que não viria mesmo nada de bom para o planeta. No início do ano até que deu pra enganar na temporada do Corinthians quando este saiu pela primeira vez sem saldo da Bahia onde ganhou do Ypiranga (1 X 0) e do Galícia (3 X 2), mas perdeu do Bahia (2 X 5) e Botafogo (0 X 2). Mas logo depois chegaria o Flamengo e vingaria os sulistas arrasando Botafogo (7 X 1), Bahia (5 X 2) E Botafogo (4 X2), mas tropeçando no Ypiranga (1 X 3).
O Vitória viveria um ano que sua torcida deve definitivamente esquecer. O clube estava tão mal que sequer realizaria amistosos na Graça, limitando-se apenas a participar de jogos oficiais. O campeonato começaria no Dia do Trabalho com o clássico BA-VI onde o rubro negro seria arrasado pelo exdrúxulo escore de nove a quatro! Foi um terror, aliás, bastava ver a cara dos torcedores que saíram da Graça naquele dia pra entender que a grande guerra na Europa estava próxima.
                                                          Enfim saiu a história da FIFA!

Duas semanas depois o certame registraria outra sensacional goleada, do tricolor contra o azulino por seis a um, consagrando o esquadrão ainda no mês de maio ao abater, por sete a um, o Energia Circular. Afinal, o Bahia estava bem ou todo mundo estava mal? O Botafogo também vencia, mas com escores mais modestos, o Yankees por quatro a um, e o Galícia por cinco a três. Enquanto isso o rubro negro seria goleado de novo pelo Ypiranga por seis a três.
O mês do São João prometia mais novidades no campeonato baiano e elas vieram. O Vitória continuou em sua marcha lúgubre perdendo de seis do Galícia e do Botafogo, um verdadeiro massacre humilhando a sua vibrante torcida que, em quatro jogos já havia tomado 27 gols! O Bahia continuou ganhando até o grande clássico do pote de 14 de julho.
                                               Nem adiantava o susto dos torcedores!

Foi mais um sinal para as potencias da Europa. Imagine que o jogo foi realizado no dia do aniversário da Queda da Bastilha e a queda do tricolor para os diabos rubros por três a um acabaria com a campanha do tricolor que perderia mais uma vez para o mais querido (2 X 3) ficando longe da liderança.
O Vitória estava de mal a pior neste ano e o Bahia arranjou uma excursão quando viu que não tinha chance de disputar o título. Como havia baixado o interesse no certame ocorreu a “virada de mesa”. Foi proposto “começar de novo” o campeonato ignorando a bela campanha do Botafogo.
                 Finalmente a desgraça do Rildo fez alguma coisa... deu uma porrada no juiz!

A discussão deu “o maior pau”, mas acabou contentando a todos. Haveria naquele ano dois campeonatos, mas o Botafogo que estava liderando teria que “decidi-lo” com o Ypiranga quando estava dois pontos na frente. Era muita armação, ainda mais que o auri negro cresceu e fez frente ao bom time do Botafogo havendo a necessidade de duas partidas que terminaram empatadas em três gols. Ufa, o alvi rubro levou o título muito comemorado por sua torcida no dia 14 de agosto.
Estão pensando que acabou? Que nada, agora viria outro campeonato, em outubro, inventado pela liga. O Vitória botou a mão na cabeça, logo ele que estava “caindo pelas tabelas” teria que disputar mais um campeonato. Ninguém merecia quanto mais o decano! Pra piorar a história ainda lhe colocaram de novo pra abrir o novo certame contra o recém-campeão. Não podia dar outra coisa a não ser tomar de cinco!
                               Naquele tempo os EUA nem se metiam na desgraça da Europa!

As coisas quase que se decidiram em um mês quando programaram os jogos contra os clubes que decidiram o título e o tricolor levaria vantagem, contra o Botafogo (4 X 1) e o Ypiranga (3 X 1), e ainda sobraria para o Galícia (4 X 3). O novo clássico contra o Vitória estava programado para o 20 de novembro que, mais tarde, seria escolhido como o Dia da Consciência Negra. Disseram que foi pela morte de Zumbi dos Palmares, mas na verdade foi uma grande provocação tricolor, pois nesse dia o rubro negro seria arrasado por esdrúxulos dez a dois, no maior resultado em jogos oficiais dos dois clubes.
O certame invadiria o ano em que dizem que começou a guerra e se decidiria antecipadamente para o tricolor que repetiu o escore do turno contra o alvi rubro. Quanto ao desgraçado Vitória continuaria sua via crucis perdendo todas as partidas deste novo campeonato. Será que foi uma maldição do Íbis criado no pior ano da história do Vitória?

                                        Mas quando será que o Vitória vai sair do buraco?

É por essas e outras que eu não entro em desespero após perder para o Boa Esporte. Já vivemos coisa muito pior! 

·          Agradeço aos sites RSSSF Brasil e Wikipédia e ao Almanaque do Futebol Brasileiro.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Vivendo no inferno



Ontem o negócio aqui foi “russo”. Imaginem que nem consegui postar o meu artigo no blog. É que minha esposa foi se operar num dos hospitais da Bahia. Até a véspera ninguém se entendia sobre o dia do internamento. O hospital dizia que tinha de dar entrada na véspera e o médico aceitou que chegássemos às cinco. O problema era que o hospital queria ganhar mais um dia de internamento ás custas do plano de saúde. Na queda de braço ainda bem que ganhou o médico.
Ela estava escalada pro primeiro horário das cirurgias que, diga-se de passagem, é a única coisa que começa no horário aqui na Bahia. Mas como disseram pra chegar cedo tivemos que acordar as quatro da matina. Isso é hora de gente? E o pior é que nada adiantou pois quase todo mundo dormia.
                                              Jogaram o futebol baiano na lama!

Se uma quadrilha assaltasse o hospital naquele dia não deixaria pedra sob pedra. O segurança da portaria do hospital dormia a sono solto tendo que o taxi buzinar duas vezes para acordá-lo. Na recepção não havia ninguém e tivemos que esperar uma pessoa ir lá dentro pra chamar os funcionários. Quando chegamos ao quinto andar é claro que no posto médico não tinha ninguém. Resumindo o drama, só as seis é que apareceu uma enfermeira.  A operação porém transcorreu muito bem e os funcionários, quando acordaram, foram “gente fina”. Minha esposa teve alta meio dia quando conseguimos nos livrar da comida do hospital.                                                   
Mas vou deixar o meu drama pessoal de lado pra falar sobre o drama dos times baianos no Brasileirão. Nem parece o tempo da Fonte Nova pros nossos clubes passarem tanto sufoco só comparáveis ao reduto dos belzebus, lucíferes, monaquites e outros bichos doidos.
                                                         Geninho foi pro inferno!

As religiões, mitologias e filosofias até hoje não se entendem sobre esse tal de inferno. A origem do termo é latina significando as “profundezas”, ou “lugares baixos”, ou ainda o “mundo inferior”. Uns dizem que é um lago de enxofre, outros que é uma câmara de torturas, outros falam de tormentos indescritíveis e há quem só veja fogo.
Uns acham que a condenação aos sofrimentos do inferno é eterna, mas há quem diga que é um local de purificação. Assim ou o inferno seria um local de desespero total e quase nenhuma esperança. Mas, como baiano vou também dar o meu “pitaco”, o inferno é aqui na Bahia e seu lugar é no Brasileirão.
                                         Que dirigível que nada esta desgraça é muito pior!

Pros meus visitantes do exterior quero informar que o Bahia está na Primeira e o Vitória está na Segunda Divisão, pois um subiu e o outro desceu no ano passado, mostrando que não se entendem mesmo. O tricolor está em 16º lugar, a um ponto do inferno, e o rubro negro está em 11º lugar, a apenas quatro pontos do rebaixamento. Como sempre, foram imprevidentes, não tiveram planejamento e contrataram jogadores “nas coxas” armando times durante o próprio campeonato.
Não podia dar outra coisa que a desgraceira geral. O esquadrão ganhou duas acreditem!), perdeu quatro e empatou seis partidas! Já o leão ganhou cinco, perdeu seis e empatou dois jogos. É mole? Mas tem coisa pior, o Bahia não ganhou de ninguém dentro de casa e o Vitória perdeu os últimos três jogos. Os dois times são caso de polícia!
                                                      Até esta aí apareceu na Bahia!

Os baianos estão vivendo um verdadeiro inferno astral. A diretoria do tricolor meteu a mão no bolso e está com uma folha de dois milhões mensais à custa da contratação de medalhões do Sul, mas todos eles estão presos por cláusulas contratuais e não podem jogar contra aqueles. Alguns jogadores só atuam bem quando a partida é no Rio de Janeiro, junto da mídia carioca. O técnico Renê Simões até hoje não descobriu qual é o esquema de jogo e se usa dois ou três volantes.  
Quanto á diretoria do leão desde que começou a Segundona está trocando os pneus com o carro andando. Até hoje não entendeu em que divisão está contratando jogadores sem perfil para o certame onde a ordem é “bola no mato que é jogo de campeonato”. Já está pra contratar o terceiro técnico e o time ainda não “entrou no clima”.
                                                  E, pra completar, ainda perdemos Amy!

O inferno descrito por Dante é fichinha se compararmos aos atacantes que temos de aguentar no Barradão. Da zaga, que tomou oito gols em três jogos, nem vou falar pois é um bando de mauricinhos que terminam limpinhos os jogos nem precisando tomar banho. Que Belzebu que nada, inferno é a dupla BA-VI contratar mais de trinta jogadores e não sair do lugar. Prefiro ser condenado ás profundezas a aguentar ser baiano num certame onde em 75 pontos disputados os clubes baianos só ganharam 29. E o pior é que agente ainda ouve diretores de clube dizerem que o esquadrão vai disputar a Libertadores e o leão vai faturar a Segundona!
Os tais de Marcelinho e Alex Portela parecem até com os demônios expulsos do Paraíso. Quem é que aguenta mais tanta promessa? Um pagou duzentas milhas pra Ricardinho ser reserva de luxo e deixa Renê de técnico mesmo com uma média de um ponto por jogo!. É bem verdade que o outro acordou na semana passada, quando trouxe alguns bons jogadores, mas o problema é o espírito da equipe que não consegue entender como jogar a Segundona.
                                       Lá vem o trem do Brasileirão arrasando com a Bahia!

Caetano disse que o Haiti é aqui. Só que ele se esqueceu de que o inferno também é aqui! Se este é o lugar de desespero total e nenhuma esperança já estamos nele e não sabíamos. O Vitória está atrás até do combativo Asa de Arapiraca (sic!) e seu “ataque” é tão desgraçado que marcou 14 gols em 13 jogos! Se não reagir já vai pros quintos do inferno. E olha que não são “nenhuma Brastemp” seus três próximos adversários, o Boa (vocês já ouviram falar?), a escola de samba do Salgueiro e os americanos de Obama.
Mas, há quem aguarde a segunda vinda de Cristo esperando que os salvos sejam ressuscitados pra reinar com Ele por mil anos. Realmente, se o homem descer, e Satanás, os demônios e os ímpios forem aniquilados, sobrarão apenas os baianos. Resta a rubro negros e tricolores torcerem então pro Juízo Final acontecer até este fim de semana!


terça-feira, 26 de julho de 2011

Chumbo grosso!


                   
A Primeira Grande Guerra foi um conflito de vastas proporções que tomou conta da Europa entre 1914 e 1918 envolvendo países de praticamente todas as regiões do planeta em função dos interesses que estavam em jogo. Na verdade foi uma disputa colonial entre os países imperialistas e houve de tudo na ocasião, traições, pactos secretos, “neutralidade”, e os que, como os EUA, esperaram a Europa se destroçar pra se apossar dos mercados do continente. Essa brincadeira custou quase vinte milhões de mortos.
Até hoje discutem quem começou a guerra, sem lembrar que já existia há muito tempo um clima de disputa imperialista. Uns reputam ao famoso assassinato dos herdeiros do Império Austro-Húngaro, mas, dois meses depois, o Império Britânico invadiu o Togo (protetorado alemão) o que levou a esses a invadir a África do Sul que pertencia aos ingleses. Mas dai a Cesar o que é de Cesar!
                                                                   Poxa que caras!
 
O Brasil só entrou no processo em outubro de 1917 quando já se sabia quem ia vencer. Mas só fez enviar alguns aviadores, um corpo médico-militar e patrulhar a costa da África.  O que os almanaques não sabem, porém, é que os baianos viveram o dia a dia do conflito mundial e este impactou até em seu futebol.
Pra começar a conversa, em 1913, enquanto foram se construindo as justificativas da guerra os dirigentes esportivos da Bahia também armaram a sua guerrinha. A justificativa foi a antiga Liga Bahiana dos Desportos Terrestres que, com seus clubes elitistas, estava nos seus últimos dias. Boa parte do ano de 1913 foi gasta com brigas e discussões pra criar uma nova liga fazendo com que o campeonato daquele ano só começasse em setembro.
                                                O negócio era feio na Avenida Sete!

O documento das bases da nova Liga Brasileira de Sports Terrestres só tinha a assinatura dos clubes White, Sul América, Belo Horizonte e Fluminense. Quer dizer, parecia até uma liga mundial constituída de mineiros, americanos, sul-americanos e baianos. O presidente da liga, Antônio Veloso (que não era parente de Caetano Veloso), só foi eleito na véspera de começar o certame.
Enquanto as tensões rolavam soltas na Europa aqui na Bahia o White não se conformou com sua eleição desfiliando-se da liga que mal nascia. Sempre esses americanos... Logo depois o Belo Horizonte mudou de nome passando a adotar a denominação de Ideal, pois ficava chato os mineiros participarem do campeonato baiano.
                                                    Dia de jogo no Rio Vermelho!

Como o Internacional aceitou participar acabaram organizando o certame com quatro clubes quando se sagrou campeão o próprio autor da proposta da nova liga o Fluminense FC. Mas os problemas eram tantos que o Internacional retirou-se por não concordar com a derrota no seu jogo decisivo contra o Fluminense e o Ideal (lanterna do campeonato) também abandonou a liga em pleno Natal daquele ano.
O ano de 1914 parecia de paz na Bahia pois reorganizaram o Ypiranga que acabou levando o Internacional a voltar a liga e a filiação do SC Brasileiro. Imaginem que o campeonato começou em junho não tendo nem consideração com o inicio da guerra na Europa. Em pleno dia do assassinato dos herdeiros do trono Austro-húngaro o Internacional vencia tranquilamente o Brasileiro por um a zero no Campo da Pólvora. A primeira peleja oficial do auri negro termina num empate sem gols contra o campeão Fluminense. Mas desta vez, para sintonizar-se com o conflito mundial, quem levou o título foi o “Internacional” e invicto.
                                                      O leão entrava e saía das ligas!

Na ocasião o navio escola Benjamin Constant passou pela Bahia e sua estadia acabou em pizza com a realização de jogos nos campos da Pólvora e do Rio vermelho. Os dois realizados no centro da cidade foram contra o Ypiranga registrando-se a vitória do mais querido por quatro a um e o empate em um gol na revanche.
Já dissemos que com a criação da liga “brasileira” haviam se afastado os clubes elitistas que haviam começado o campeonato baiano em 1905. Mas, em 1914 o Bahia iria participar do clima de guerra. É que o Yankees (sempre eles se metendo em tudo!) resolveu arrendar o hipódromo do Rio Vermelho e criar uma nova liga. Foi a maior confusão, e veja os clubes que a fundaram, o Caixeral (isso é lá nome de clube de futebol?), o Néo-Grego (assim também é demais!), o São Bento, o Palmeiras, mas pelo menos se salvou a Associação Athlética.
                                                  Nem o Fantasma dava jeito na confusão!

Esses clubes passaram a jogar outro campeonato baiano, organizado pela Liga Sportiva da Bahia. Só mesmo na Bahia, não contentes com um e fraquíssimo campeonato, os baianos decidiram organizar outro. Uma era jogado no Campo da Pólvora e o outro no Rio Vermelho. Mas estão pensando que acabaram as confusões? Ledo engano! O próprio clube fundador mostrou que só queria fazer confusão retirando-se logo no segundo jogo da liga! Durma-se com um barulho desses!
A briga durou dois anos. E assim os baianos tiveram dois campeões nesses anos de guerra. Em 1914 foi a vez do Internacional e da Associação Athlética. E em 1915 levaram a taça Fluminense e Palmeiras, que deve ter sido um antepassado do atual clube de São Paulo que assim pode vangloriar-se de ter sido campeão baiano! Por sinal, no ano em que a Itália celebrou um pacto secreto para entrar na guerra em troca de territórios e expandir suas colônias.
                                                  Olhem o estádio como era "derrubado"!

Interesses á parte lá e cá. É que na Liga “Brasileira” o pau “comia solto”. Até que entraram novos clubes como o Guarany, o Botafogo e o República, mas durante o certame saíram o mesmo Guarany, o Brasileiro e o próprio Ypiranga! Tudo era motivo de racha, desde as arbitragens até as deliberações absurdas tomadas por uma liga onde ninguém se entendia.
Em 1916 porém houve uma trégua na guerra, mas não a da Europa e sim a da Bahia. A Liga Sportiva morreu de morte natural e a “Brasileira” ficou sozinha. Mas os clubes de uma não passaram para a outra, assim o certame foi organizado com apenas cinco clubes. Na véspera do início do certame a Intendência Municipal proibiu os jogos no Campo da Pólvora sob a justificativa de fazer ali um jardim.
Aí o certame passou pro Rio Vermelho e a frequência aos jogos foi “pra cucuia”. O bairro era longe, mal servido de transporte, e ainda se pagava pra assistir as partidas. O SC República (mostrando que esse regime não está com nada mesmo) deu o golpe em todo mundo açambarcando os jogadores do Ypiranga, um dos melhores times da época, e levando o título de forma invicta.
                                                    E o pior é que era Dalí e daqui!

1917 foi um ano muito atribulado no planeta. Revolução russa, guerras civis e momentos decisivos da Primeira Grande Guerra. Diversos navios brasileiros eram torpedeados e o Brasil entrou na guerra. Na Bahia o Ypiranga, que tinha sido terceizado no ano anterior, decide voltar á luta. Sem os jogadores do auri negro o campeão República mostrou logo fraqueza caindo na estreia para o Sul América (0 X 2) num ano em que seria o aurinegro que seria campeão invicto enquanto a revolução soviética estourava.
Foi neste ano que pela primeira vez se convocou uma seleção baiana pra jogar contra os sergipanos. A estreia em Aracaju porém, foi um desastre, com a derrota do nosso selecionado pelo escore mínimo. Aí o jeito foi marcar outra partida em Salvador. A recepção foi apoteótica, com discurso e corbeille de flores á delegação sergipana, mas nos jogos mesmos foi “pau puro” nos vizinhos. Foi um massacre digno dos campos da Europa, pois o Republica enfiou sete a zero e o selecionado baiano seis a um! Os sergipanos nunca se esqueceram destas derrotas e passaram, inclusive, a levar jogadores baianos para a sua terra enfraquecendo o nosso campeonato.
                                                    O mar não estava pra peixe!

1918 foi o fim da guerra...na Europa. Aqui continuaram as hostilidades na guerra sem fim do futebol baiano. O ex-campeão República nem se inscreveu pra disputar o certame. Na véspera do início do campeonato o Fluminense provocou a maior confusão ameaçando desfiliar-se e só há muito custo voltou atrás. A indisciplina campeava em campo com jogadores atuando descalços e a violência campeando.
Pra piorar a história as baixas renda não permitiam á liga melhorar as dependências do campo do Rio Vermelho. As arquibancadas estavam em ruínas, a garagem onde os jogadores mudavam de roupa ameaçava cair em suas cabeças, e até o arame (colocado pra cobrança dos ingressos) não mais existia.
                                                O futebol e o planeta estavam mal!

Quando o torneio ia já avançado, nova crise tomou conta da liga, com a anulação do jogo Ypiranga X Botafogo sob a polêmica de um gol marcado em impedimento. Pra culminar, em agosto, morre o idealizador da Liga “Brasileira” Artur Mendes. Foi nessas condições que o Ypiranga levaria de novo o título.
Mas o fim da guerra na Europa acabou por dar uma nova trégua ao futebol baiano. Foi feito um movimento pra recuperar o campo do Rio Vermelho e acabou se criando uma comissão de vários segmentos da sociedade que se reunia no clube Baiano de Tênis. Com pouco tempo adquiriu um terreno no aristocrático bairro da Graça onde colocou a pedra fundamental do primeiro estádio de futebol da Bahia.
                                                       Reunião da Liga "Brasileira"!

Aí todo mundo voltou. Os clubes que fundaram o campeonato nos primeiros anos, os do “Brasileiro”, os da Sportiva, outros até foram criados pra participar dos novos campeonatos. Até o Vitória voltou a disputar o certame de onde havia se retirado há vários anos! Foi com a criação do Estádio da Graça que os baianos viveriam em paz algum tempo, até começar outra guerra. No planeta houve apenas duas mas na Bahia já passam da décima nona!

·          Agradeço ao Almanaque Esportivo da Bahia (1944) e ao site Wikipédia.  

domingo, 24 de julho de 2011

Coitadinha da Amy Winehouse!

                           
                                   
                                                        Tentaram me mandar para a reabilitação.
                                                         Eu disse “não, não, não”.
                                                         É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
                                                         Vocês vão saber (...)
                                                         Não posso ficar 70 dias internada
                                                          Porque não há nada
                                                          Não há nada que possam me ensinar lá
                                                                                                            Amy Winehouse (Rehab)             

Fiquei chocado com a morte de Amy Winehouse. Afinal, era uma dos nomes mais criativos num cenário musical onde os artistas são muito previsíveis.  Fica difícil até classificar o seu estilo. Afinal de contas era uma cantora de jazz, soul, rhythm and blues? Brigou como pode com a indústria musical e da comunicação que procurava mantê-la em evidencia muito menos por seu talento e muito mais pelos escândalos falsos e verdadeiros que era um verdadeiro “prato cheio” para a mídia sensacionalista.
E agora, quem é que vai substituí-la? Já não há mais Michael Jackson e a Lady Gaga não passa de uma invenção grosseira e sem talento que não vai durar muito tempo. A quem é que vão acusar de estar bêbadas nos concertos quando todo mundo sabe que muitos artistas “tomam uma” (ou muitas) antes, durante e depois das apresentações?
                                                Amy se aborrecia muito com o Vitória!

Mas o que muita gente não sabe é que Amy gostava muito de futebol. E como era diferente não ia assistir ao Chelsea, Manchester United e outros bichos do Reino Unido. Era vidrada no futebol baiano! A imprensa do Sul nunca conseguiu apurar o que ela fazia quando se trancava no hotel, mas ela alugou um avião só pra vir à Bahia.
Só acompanhava a terrinha por ouvir falar. Tinha gente que mandava pra ela tudo o que acontecia por aqui. Aliás, foi assim que adquiriu sua criatividade, e aprendeu a se atrasar para os shows. Afinal de contas em que lugar os shows começam mais atrasados do que a Bahia?
Ela nasceu um dia depois de começar as quartas de final do terceiro turno do campeonato baiano de 1983. Já criancinha perguntava como é que os baianos faziam tantos turnos pra decidir quem era o campeão. E olhem que ainda teve o quarto turno e os jogos finais onde os times levavam pontos, e...deixa pra lá. Foi assim que aprendeu a fazer coisas que ninguém entendia!
                                                    Ela fez tatuagens no Pelourinho!

Foi no ano que criou a sua primeira banda, a Sweet in Sour, que o Vitória voltou á Primeira Divisão. Foi um dos principais acontecimentos do planeta naquele ano, e o rubro negro estava na mídia mundial pois chegou a final contra o Palmeiras obtendo mais um vice. Aquilo chamou a atenção de Amy que se entusiasmou com a criatividade dos brasileiros. Na verdade o regulamento do campeonato brasileiro competia com a invencionice dos baianos. Havia duas “séries”, uma com os clubes famosos e outra com os “sem mídia”. Classificavam-se três times em uma e cinco em outra e no final começavam um quadrangular do zero.
Quando começou a tocar guitarra, três anos depois, o leão já estava emendando seu primeiro “tri” na Bahia. Mas, os baianos chamariam de novo a sua atenção em 1999 quando completava dezesseis anos e começava a sua carreira como cantora em Londres. Aquele foi mais um ano de fama da Bahia. É que nas finais do campeonato entre a dupla BA-VI o tricolor, depois de vencer a primeira partida na Fonte Nova recusou-se a jogar no Barradão usando como testa de ferro o Clube de Regatas Itapagipe, que entrou com uma reclamação na federação alegando que o estádio “não teria condições de sediar uma final de campeonato”.
             A criatividade de Amy se deve a Bahia. Quem tem um metrô que nunca termina?

Naquele dia, mais uma vez de forma criativa, as duas torcidas foram a Fonte Nova e ao Barradão comemorar o título. Houve festa dos dois lados. O abacaxi, porém ficou para a STJD que levou dois anos enrolando pra dar o resultado que todo mundo sabia, a divisão do título.
Vou aproveitar pra revelar um segredo. O ano que Amy gravou seu primeiro álbum, Frank, ela estava muito triste pois o Bahia caiu pra Segunda divisão. Mesmo com toda a festa que a Island Records fez pra promover as suas musicas ela não se animou muito. Afinal, como ela iria saber das coisas que os baianos aprontavam com seus times na Segundona. E a coisa agravou logo no outro ano quando o Vitória também caiu.
                                 Ivete bem que tentou cantar com Amy mas ficou com Byoncê!

Era um desastre para a Bahia. E foi isso que fez Amy aderir ás drogas e á bebida. Passou três anos sem gravar outro álbum, só o fazendo em 2006, Back to Black, quando pelo menos o leão subiu. Foi quando o rubro negro já estava na Primeira Divisão que Amy teve o seu melhor ano, em 2007, obtendo o melhor desempenho de uma artista no planeta quando vendeu cinco milhões de discos e ganhando o prêmio de melhor artista feminina britânica.
Mas esses anos de sofrimento para os baianos abalaram muito Amy pois, quando os clubes baianos estavam nas divisões inferiores, deixaram de dar manutenção á Fonte Nova. A infraestrutura do estádio deteriorou e ficou de dar pena. Contavam tudo á Amy que chorava muito. Mas o inferno seria em 25 de novembro quando uma parte do estádio cederia matando sete torcedores num jogo em que o esquadrão empatou a zero com oi Vila nova de Goiás.
                                   Se a mídia "enchia o saco" de Einstein imagine o de Amy!

O governador mandou fechar o estádio e a família de Amy sentiu o golpe. Não poderia assistir às partidas no estádio quando viesse ao Brasil. O desespero fez com que seu marido fosse preso nesse ano e, no ano seguinte, a própria Amy seria presa duas vezes. Desde essa época ela não quis mais saber de lançar discos.
Amy pegou arritmia cardíaca em junho de 2008. O Bahia tinha até começado bem esse mês vencendo o Criciúma em Santa Catarina, mas logo depois empatou sem gols com o Avaí em Feira de Santana, onde mandava seus jogos. Depois saiu pra Fortaleza onde empatou com o Ceará por dois gols. Mas, foi em pleno dia de São João que foi esmagado pelo Juventude em Caxias por quatro a um, colaborando para os problemas de saúde da nossa querida e original cantora pois pra ela ficou claro que o tricolor não iria subir.
                        Mário Kértesz nem conseguiu levar Amy pro programa da Rádio Metrópole!

Pra Amy é época de combinar internações em clínicas com o aparecimento em shows. Podia pelo menos se consolar com o Vitória na Primeira Divisão. No ano passado estava tão animada com a campanha do tricolor que terminou o tratamento. Para sua alegria o Bahia subiu mas haveria duas desgraças na vida de Amy, implodiram a Fonte Nova e o rubro negro desceu pra Segundona.
Foram novos dias tristes para Amy. Sua saúde frágil ficou ainda mais abalada. Ela chegou a ficar com menos de cinquenta quilos. No início de maio o Vitória deu-lhe um novo golpe perdendo o “penta” pro Bahia de Feira. Era demais! Na ocasião, ela chegou a passar um telegrama raivoso que Alex Portela esconde a sete chaves.
                                        Tchau Amy, o mundo vai ficar mais chato sem você!

O golpe final na atribulada vida de Amy Winehouse seria dado pelo rubro negro ao perder pra Portuguesa em Pituaçu quando todo mundo achava que estava no caminho certo pra subir com as novas contratações. Até Amy se animou quando veio Lúcio Flávio, Geraldo e Chiquinho. Só de bolas na trave foram duas mas a defesa “entregou o ouro” deixando o leão a quatro pontos do Z-4. Amy havia comprado a Sky e assistiu tudo do seu quarto via satélite. Estava bebendo desde que começou o jogo. Quando Mauricio entregou a bola ao centro avante da Portuguesa ela emborcou.

Era demais pra aguentar. Foi mais uma pra conta do leão que engoliu uma grande artista. É por isso que ela trazia uma tatuagem no braço direito feita no Pelô que dizia "Nunca amarres as minhas asas".

·          Agradeço aos sites Bola na Área, RSSF Brasil, Letras.com e Wikipédia, e aos blogs revistagrita.com, gentesemfuturo.blogspot.com e revista.congres.com.br.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A falta que nos move ou um campeonato pra inglês ver!

   
     
                              
Muita gente diz que eu, em matéria de cinema, meu caso é com Hollywood. Mas isso é intriga da oposição, logo eu que trato tanto da Bahia, que, por um desses acidentes da vida, fica no Brasil. Só pra contrariar eu vou falar hoje do cinema “nacional”, que não vive só de pornocomédias.
A prova disso é o drama A falta que nos move de Christiane Jatahy. O filme é sobre atores querendo fazer um filme na véspera do Natal, quando certamente deveriam ter outras coisas pra fazer. Passam o tempo todo esperando uma pessoa que não sabem quem é e se vem. Enquanto isso Daniela Fortes, Cristina Amadeo, Marina Vianna, Pedro Brício e Kiko Mascarenhas ficam lembrando-se de sua vida como aqueles chatos filmes existenciais.
Mas o seu enredo não é nada original e é também bastante antigo. É que houve um tempo em que o que movia o futebol baiano era a falta. Imaginem que faltava tudo, jogadores qualificados e que não apelassem para a pancadaria, clubes que aceitassem o regulamento, juízes honestos, e, como não podia deixar de ser, dirigentes com vergonha na cara.
                                               Pô, não podia nem ter uma porradinha!

Pouco depois que o futebol baiano surgiu, no início do século passado, organizaram logo uma liga, a Liga Bahiana de Sports Terrestres. Mas na verdade o futebol era “pra inglês ver”. Se não fosse por misso porque teriam escolhido o Sr. F.G. May para presidi-la? Na vice ficou mesmo o fundador do EC Vitória Artêmio Valente. Mas, antes de começar o certame eis que surge uma grande briga no Vitória e que acaba com a saída deste fundador que arrasta um grupo de jogadores para criar o São Salvador que se tornaria a primeira grande rivalidade do futebol baiano.
Por sinal, a liga era tão engraçada que pra organizar o seu primeiro campeonato em 1905 teve que brigar com um circo, O Lusitano, que também queria se armar no Campo da Pólvora que, ao contrário de outros largos, ficava no centro da cidade, ali nas proximidades onde os brasileiros se concentraram para fustigar os holandeses que tomaram Salvador em 1624.
                                          Nerm podia levar cachorro no Campo da Pólvora!

A prefeitura, digo a intendência municipal, acabou dando uma solução salomônica. Botou o circo na cabeceira do campo deixando este livre para os jogos. E aí pessoal pode aprovar a tabela pra começar o certame. Mas logo depois outra briga perturbou o início do campeonato que ainda sequer havia nascido. É que clubes da liga resolveram assediar os jogadores do São Paulo Athlétic. Bem feito, quem mandou aceitar no campeonato baiano um time da colônia paulista? Só na Bahia mesmo, pois juro que em São Paulo jamais aconteceria?
Mas, voltando à vaca fria, o São Paulo resolve desistir do certame, e isso quando a tabela já estava aprovada e comunicada á Intendência. Pra não deixar brechas para o circo acabou-se por deixar o dito pelo não dito e manteve-se a reserva das datas para os jogos que não seriam realizados e começou-se o “campeonato” com apenas quatro clubes.

                                                       Beber cerveja estrangeira podia!

O primeiro jogo de um certame na Bahia foi a nove de abril de 1905, e se realizou entre Vitória X Internacional. Mas na realidade foi entre brasileiros e ingleses. Durma-se com um barulho desses. O campeonato era “baiano”, mas estava cheio de ingleses, paulistas, pernambucanos, sergipanos. Acho mesmo que os baianos eram minoria! E não era só isso.
O goleiro chamava-se “gol keeper”, o matador de “center foward”, os zagueiros de “backs”, os médios de “center halfs”, os juízes de “referee”, e assim por diante. Todo mundo enchendo a bola dos ingleses! Mas pelo menos o Vitória, que naquele tempo tinha o prenome de “Sport Club”, colocou alguns baianos, embora a turma da elite.
                                               Os caras iam ao campo de cartola e terno!

Imagine que jogador naquela época tinha nome e sobrenome. Ninguém era conhecido pelo apelido. Ao invés de Pelé, Garrincha, Bolacha, Beijoca, Manga, Sapatão, Piu-Piu e outros que tais, o rubro negro entrou em campo cheio de sobrenome das famílias ricas da Bahia, onde não faltavam vários parentes, formando com Luiz Tarquínio, Pedro Ferreira e Rodrigo Sampaio; Oscar Luz, Alberto Catarino e Arnaldo Moreira; Oscar Alves, Juvenal Tarquínio, Álvaro Tarquínio, Pedro Barbosa e, até um com nome de inglês, o W. Chest.
Do outro lado, nem é bom falar do Clube de Cricket Internacional. Ora se era de críquete que estava fazendo no certame de futebol? Além disto, de “Internacional” não tinha nada, pois eram todos ingleses, e imitavam o decano nos parentes, formando com G. Orr, CC Sharp, C. North, D. Mc Nair, AE Greig, R. Mc Nair, V. Vero, JC Covey, A. Hayne, F. Stewart e J. Mc Nair. A preocupação diplomática fez com que não desse outra coisa que a vitória dos estrangeiros por três a um, gols de Stewart(2) e Hayne contra o gol de honra de Juvenal Tarquínio.
                                                      Também não foi a tanto tempo!

Os outros dois clubes que disputaram o “campeonato” foram o São Salvador e o Baiano de Tênis. Assim, tínhamos um time inglês, dois que nasceram da mesma fonte (Vitória e São Salvador) e um tradicional e aristocrático clube de elite, o Baiano de Tênis. Esse outro também era problemático, pois era de tênis e estava disputando um “campeonato de futebol”?
Mas vamos deixar a coerência pra lá em matéria de futebol baiano. O que sei é que em uma semana os ingleses já estavam disparados, pois, além de vencer o leão, ganharam também do São salvador por dois a zero. Ainda no mês de abril disputou-se o jogo de aristocratas quando o rubro negro acabou levando vantagem sobre o Baiano e por quatro a zero.
                                     José de Alencar quando jogou como goleiro na Bahia!

O primeiro clássico só ocorreu em 21 de maio, quando o Vitória enfrentou o São Salvador precisando vencer pra alcançar o “Internacional” na liderança. Foi o recorde de público no Campo da Pólvora durante certo tempo. A imprensa da época calculou em dez mil os assistentes. O São Salvador abriu o placar, mas logo o rubro negro virou, mas Zuza Ferreira (que trouxe a bola para a Bahia) empataria antes do intervalo.
No segundo tempo o São salvador faria mais dois gols conseguindo vencer o jogo que acabou numa passeata ao centro da cidade com banda de musica, jogadores, juízes, assistentes, que regou o triunfo com champanhe e foi parar no Palácio da Aclamação. O Baiano imporia a única derrota do Internacional antes de terminar o primeiro turno.
O Vitória reagiu no novo turno ganhando do Baiano (3 X 0) e do São Salvador (1 X 0) empatando com o “Internacional” em pontos. A grande final seria mesmo entre baianos e ingleses três dias depois da data consagrada á chamada independência do Brasil. Neste dia novo grande público acorreu ao Campo da Pólvora e dizem que muito baiano torceu pros ingleses, especialmente o pessoal do São Salvador que viria a antecipar o que sentiriam os tricolores depois, trocando o nome da capital pelo o do próprio estado.
                                                       Lula ainda falava com FHC!

O jogo foi renhido alternando-se as chances de abrir o escore, e de predomínio das defesas contra os ataques. Mas no final, o decano experimentou nova derrota para os ingleses que provocaram um sério problema para a história do futebol da terra. Imaginem que o primeiro campeão baiano havia sido um clube inglês!
O feito sacudiu a chamada “República Velha”. Imaginem que foi parar até no Senado (que naquele tempo era no Rio de Janeiro) e nos vetustos jornais do Sul. Como é que os baianos admitiam isso? Mas o problema não era com os estrangeiros porque havia quem quisesse sair da dominação inglesa pra ficar sob a tutela do imperialismo norte-americano, mesmo que esse não quisesse saber de futebol.
                                            Nem se podia comer acarajé na assistência!

Mas a vida, ou os torcedores baianos, iriam resolver o problema por conta própria. O “campeonato” do ano seguinte havia começado com mais um clube, o recém-criado Santos Dumont. Mas o que deveria se constituir em motivo de animação logo se transformaria em nova crise. O Vitória começou mal perdendo o clássico para o São Salvador (0 X 2), enquanto o Internacional dava uma “lavagem” no aristocrático Baiano de Tênis por quatro a zero.
Então veio o jogo dos líderes quando o São Salvador venceu os ingleses pelo escore mínimo. O clássico seguinte era entre Vitória e Internacional e o perdedor estaria praticamente sem chances de chegar ao título. Na oportunidade o rubro negro teve grande atuação, recuperando-se das derrotas anteriores e vencendo os ingleses por dois a um.
                                                       A liga virou a casa da mãe joana!

Naquele dia houve grande vibração no Campo da Pólvora e os torcedores tiveram um papel ainda não visto vaiando e xingando os ingleses e apoiando o decano. Pois não é que o Internacional aproveitou essa desculpa pra abandonar o “campeonato”? Alegou “incivilidade” dos torcedores para isto. Imaginem se conhecesse o que acontece hoje!
O São Salvador seria campeão, mas cederia lugar para o Vitória nos dois próximos anos. A politicagem, porém tomava corpo e iria fazer terminal a Liga Bahiana quando disputavam o título de 1910 Santos Dumont e São Paulo, mas aquele conseguiu anular o jogo em que o rubro negro havia lhe vencido por dois a um. A reversão do resultado fez com que o São Paulo abandonasse o campeonato e deu o título ao Santos Dumont.
                                    E olhem que foi antes do filme Encouraçado Potemkim!

A Liga Bahiana só organizaria mais dois certames, vencidos pelo SC Bahia (que não é o atual) e o Atlético. Neste anos, porém as disputa seria uma confusão só. Todo mundo estava de olho na cobrança dos ingressos para os jogos que haviam se transferido para o campo do Rio Vermelho. Anulavam-se jogos no “tapetão” e a assistência estava a cada dia mais indócil.
                                         O avô de Geninho nem podia gritar com o Vitória!

É assim que vai surgindo a iniciativa dos pequenos clubes e outros de origem popular que vão sendo criados de formar a nova Liga Brasileira. A confusão, o interesse econômico, a inconformidade com o resultado dos jogos e, principalmente, o elitismo, fizeram o resto. A Liga Brasileira recomeça no nosso futebol, mas se retiram todos aqueles que viveram a primeira fase do nosso futebol.  
Só quando construíram o Estádio da Graça em 1919 é que alguns daqueles clubes voltaram. Mas doravante a elite teria que repartir tudo com o povo, os clubes e os lugares na torcida.

·          Agradeço a Alexandro Teixeira, ao Almanaque Esportivo da Bahia (1944) e aos blogs cinema10.com.br e acphone.art.br.