sábado, 26 de março de 2011

Deu raposa na Fonte Nova

O timaço da raposa com Valderlei, Fontoura, Pedro Paulo, Wilson Piazza, Mário Tito e Raul(em pé), e o massagista "Nocaute Jack", Natal, Zé Carlos, Tostão, Dirceu Lopes e Rodrigues(agachados).      


No início dos anos 70, quando estavam em vigor os anos sombrios do ainda maior endurecimento da ditadura militar, prosperou a “pornochanchada”, quando assistíamos à ex-miss Vera Fischer, a Jardel Filho, Nuno Leal Maia, Milton Morais e muitos outros que tiravam a roupa para a glória da indústria cinematográfica nacional. Na época, morre a inesquecível cantora Dalva de Oliveira, e o poeta tropicalista Torquato Neto põe fim à sua inquietação criadora.

O carnaval de Salvador era patrocinado pelas cervejarias CIBEB e Carlsberg que financiavam os trios elétricos, e já se podia brincar o carnaval na sede do EC Vitória, que era situada em Amaralina. Nas ruas, se via o bloco carnavalesco Os internacionais e ainda dava para levar a família para a Avenida Sete.

Íamos pela manhã levando nossas cadeiras e as amarrávamos nas que lá havia. Quando chegávamos à noitinha para o desfile ainda estavam lá. Acreditem se quiserem, ninguém roubava! Começavam a chegar a público as atrocidades cometidas pela quadrilha do policial Manoel Quadros, versão baiana do esquadrão da morte e, a toda hora, apareciam mais corpos.

     Esse simpático pessoal ia pra rua por qualquer coisa!


Nessa época, a firma EMBACIL, de meu pai Franklin e meu tio “Zeca” estavam trabalhando na iluminação da construção do anel superior da Fonte Nova, e o campeonato de 1970 seria disputado no campo da Graça, dando uma final capital (Bahia) X interior (Itabuna) que o tricolor ganhou de balaiada.

Lembro-me que nesse ano, ao fim do governo de Luiz Viana Filho, lidei com a minha primeira greve, só que do lado patronal. Era fim de semana (quando os operários costumavam receber), e o Banco de Crédito Real, que funcionava no Relógio da Piedade, estava muito cheio. Assim, meu tio acabou passando do horário do pagamento do pessoal.

Foi um sufoco para meu pai. Eu e meu irmão tivemos de ir á Fonte Nova ajudar. Entramos no gramado e nos dirigimos ao escritório da firma que funcionava lá mesmo, improvisado nos vestiários. Os operários foram para o escritório e fizeram um escarcéu exigindo o pagamento. Ajudei a colocar um balcão para separar a administração do pessoal em fúria.



Tentamos contemporizar e pedimos para aguardar. Naquele tempo não tinha celular, então não podíamos saber quanto tempo ia demorar meu tio no banco. Quando o dinheiro chegou, foi um alívio. Nunca mais a EMBACIL foi buscar o dinheiro na hora. Meu tio passou a ser um dos primeiros a chegar ao banco.

As obras ficaram prontas no início de 1971. Depois foi só o acabamento pra reinauguração de quatro de março de 1971. Não foi contar de novo aqui o que ocorreu neste dia, pois consta de três artigos deste blog.

A empresa de meu pai e meu tio levou meses pra receber, pois, como é comum no Brasil, o novo governo, quando assume, demora em pagar a obra autorizada do governo anterior. A empresa teve que fazer um acordo com o governador ACM, sendo obrigada a dar grande desconto. Ele não gosta de falar nisso, mas desconfio que os seus colegas empreiteiros, como Norberto Odebrecht e Nilton Simas, sofreram a mesma chantagem.

                               Liz Taylor ainda tinha 39 anos!

Mas enquanto a EMBACIL passava esta situação, descapitalizando-se para futuras obras, um novo torneio seria jogado na Fonte Nova, o primeiro da nova gestão de ACM. Começou exatamente um mês após do primeiro, o da inauguração do estádio. Desta vez com a presença de Bahia, Galícia, Santos e Cruzeiro de Minas Gerais.

Confesso que não assisti a nenhuma partida, pois fiquei chateado com o fato do Vitória não ter sido convidado. Naquele tempo meu time ainda não havia sido incluído no Campeonato Brasileiro o que só ia ocorrer no próximo ano. Assim, somente me restou o recurso de acompanhar as partidas pelo rádio.

O tricolor baiano entrava fortalecido, pois havia se sagrado vencedor do torneio da inauguração com um empate contra o Grêmio, quando Oto Glória lhe ofereceu a taça. Ás vésperas do torneio a dupla BA-Vi faz amistosos, quando o rubro negro perde pro Atlético Paranaense por um a zero e o tricolor para o Botafogo (RJ) por quatro a dois, este último comemorando o golpe de 64(argh!). Bem feito!



A primeira rodada ocorreu em quatro de abril de 1971, com Galícia X Cruzeiro na preliminar, e Bahia X Santos no jogo de fundo. Na oportunidade o azulino bem que tentou, e até jogou bem, mas não conseguiu sobrepujar a maior categoria do time da raposa mineira que venceu por três a um.

A partida principal era aguardada com grande expectativa. Era a primeira vez que a equipe do Santos jogava na nova Fonte Nova, e não havia faltado quem propusesse o seu convite para os jogos inaugurais, uma vez que o clube havia decidido por três vezes com o EC Bahia a Taça Brasil. Foi um jogo excepcional, cheio de alternâncias no placar, mas ao final o tricolor acabou vencendo o peixe por três a dois.

A segunda rodada ocorreu três dias depois. Na oportunidade iriam se enfrentar na preliminar os derrotados da véspera, e no jogo de fundo os vencedores pra ver quem ia levar a taça. O Galícia, mais uma vez, jogou bem. Ameaçou até chegar a um melhor resultado, mas o Santos se impôs, reabilitando-se, vencendo os granadeiros por dois a zero.


E fomos para a partida principal entre Bahia X Cruzeiro, um dos jogos mais importantes que até hoje disputaram. O jogo foi equilibradíssimo. Começou com o tradicional estudo, mas depois os ataques se alternaram de ambos os lados. O Cruzeiro conseguiu fazer um gol e segurou sua vantagem até o final, mostrando que não tinha apenas um grande ataque, mas, principalmente, uma boa defesa.

Ainda viria muita gente boa a Fonte Nova este ano, apesar de faltar menos de oito meses para o réveillon. Além dos jogos do primeiro campeonato brasileiro, presenciamos ali o Atlético Mineiro e o Flamengo em maio (duas derrotas do Bahia, 0 X 1 e 1 X 3) e amistosos entre clubes locais em agosto e setembro.

O Vitória fez seu segundo amistoso na nova Fonte Nova em setembro, ganhando a duras penas do Fortaleza pelo escore mínimo. Logo depois traria o Bangu, com o qual jogaria duas partidas, empatando sem gols e perdendo por três a um.

                            Naquele tempo sumia gente!

Antes do fim do ano ainda viriam mais convidados. O XIII de Campinas empataria (1 X 1) com o misto do Bahia. O Vitória ganharia do Atlético Mineiro (1 X 0) e empataria com o América (RJ) sem gols. Já o Bahia venceria a Portuguesa de Desportos pelo escore mínimo.

Em dezembro a Fonte Nova veria seu último torneio do ano, com as duplas BA-VI e FLA-FLU, mas deu pó de arroz, num certame onde ocorreu carência absoluta de gols. A vontade de jogar no novo estádio passou todas as medidas, pois ainda viria o CRB, o Cruzeiro, o Náutico, e a dupla BA-VI passaria as festas natalinas jogando entre si.

O primeiro campeonato brasileiro levaria a grande desmoralização da CBD. Os esquemas que de há muito era notados ganharam dimensão nacional. O campeonato foi organizado em duas chaves utilizando um duplo critério de classificação para a fase final: o nível técnico e a renda. O processo, porém, estimulou muitas maracutaias com os clubes comprando renda pra subir na classificação. Mas “o fim da picada” mesmo foi o jogo entre Vasco da Gama e Palmeiras no Maracanã, cujos presentes estiveram muito longe de corresponder à renda divulgada.

   Se podiam nada faziam a não ser ganhar dinheiro com o Brasil! 

O povo baiano respondeu positivamente ao primeiro campeonato levando grande público á Fonte Nova e fazendo com que nosso rival, E.C.Bahia, ficasse entre os cinco melhores colocados no critério imoral. As baixas rendas de clubes do Sul, o novo estádio, o interesse da realização de uma mini copa e o ano eleitoral de 1972 fizeram o resto garantindo a entrada de dois clubes da Bahia. No entanto, a entrada do Vitória veio acompanhada de outros com menos tradição no futebol brasileiro. 



·         Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e a foto do Museu dos Esportes. Sou grato também as imagens dos blogs felippeneri.blogspot.com,guiame.com.br,flickr.com,tempodebola.blogspot.com e sertaopauliustano.blogspot.com.


2 comentários:

  1. Gostaria de saber se esse fontoura que voces se referem acima é o ex-jogador Eunivaldo Mello Fontoura??Tentei identifica-lo na foto mas nao consegui.

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  2. Não Christiane, este jogador que voce fala nunca jogou no Cruzeiro mas no Viotória, Bahia, Amérioca e Fluminense de Feira

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